quando você diz
que nossos corpos são
simetricamente parecidos
enquanto dançam
colados na chuva
de verão
- das marcas vermelhas que deixei na sua cama
soube notícias suas
nos bares buenos
soube do meu nome
entrelaçado e continuado
na tua boca
depois de tantos anos
gostei de saber
que o sabor das gotas amargas
permaneceu
em você.
- você escolheu partir
obstinada em
esculpir a rocha que habita
em mim
dessas camadas duras
como se a rocha fosse o único
empecilho da montanha que quero subir
talvez o meu anseio seja em
ser e não permanecer rocha
firme, constante
sem meio ou fim
nunca decepcionar
banalmente sorrir
sigo traçando uma curva paralela
nas minhas armadilhas sutis
como se o meu amor
fosse sempre muito pouco e que
o meu pesar valesse em dobro
de tudo que quero sentir
agonizante é o silêncio
que embriaga meu peito
e me afunda nas memórias
do seu cigarro aceso
na minha varanda azul
azul de solidão
- você fez de nós o seu cinzeiro
se te escondo embaixo do travesseiro
sem fuga ou sossego
por que continuas aí?
do amor sem nome, clandestino
que me fita e me bate à porta
toda sexta às 17h
pergunto por que insiste em fazer um festival
de borboletas dançarem ao som
do nosso caos outra vez
se em cada passo falso das incertezas
tropeço no seu encanto
outra e mais uma vez
porque o mormaço do seu amor
descompassa as batidas
desse cigano coração
que por desatino da paixão
jamais te deixou...
